Por que ler “A Arquitetura da Cidade”, por Aldo Rossi
18 DEZ 2021
• Arquitetura
Obra emblemática para a arquitetura da cidade, o livro do arquiteto e acadêmico italiano Aldo Rossi é considerado leitura obrigatória para arquitetos. Definido como “um poeta que por acaso é um arquiteto”, Aldo Rossi recebeu o prêmio Pritzker em 1990 e dirigiu a Bienal de Veneza em 1985 e 1986. Em 1966, escreveu “A Arquitetura da Cidade”, livro que é referência quando se fala em teoria urbana. Rossi propõe uma investigação prévia aos contextos cultural e urbano, tomando como base o desenho histórico arquitetônico original, em vez de propor novas releituras da tipologia. Também propõe um olhar de “obra de arte” sobre o fazer arquitetônico. Daí a criação da Escola de Veneza, da qual é um dos fundadores, que propõe a junção da arte e da arquitetura.
Coletividade na cidade
Aldo Rossi também via a arquitetura na cidade como uma manifestação coletiva.
“Entendo a arquitetura em sentido positivo, como uma criação inseparável da vida civil e da sociedade em que se manifesta; ela é, por natureza, coletiva. Do mesmo modo que os primeiros homens construíram habitações e na sua primeira construção tendiam a realizar um ambiente mais favorável à sua vida, a construir um clima artificial, também construíram de acordo com a intencionalidade estética. Iniciaram a arquitetura ao mesmo tempo que os primeiros esboços das cidades; a arquitetura é, assim, inseparável da formação da civilização e é um fato permanente, universal e necessário”, afirma o arquiteto na introdução de sua obra.
Quarteirão por Aldo Rossi na cidade de Berlim.
Espaço X contexto social e cultural
Outro ponto abordado por Rossi diz respeito a duas faces da arquitetura na cidade, o que seria a parte espacial em si e a gerada pelo contexto social e cultural, como ele explica a seguir:
“Sem querer esboçar nenhum quadro de referência para uma história do estudo da cidade, podemos afirmar que existem dois grandes sistemas: o que considera a cidade como produto de sistemas funcionais geradores da sua arquitetura e, portanto, do espaço urbano, e o que a considera como uma estrutura espacial. No primeiro a cidade nasce da análise de sistemas políticos, sociais e econômicos, e é tratada do ponto de vista dessas disciplinas; o segundo ponto de vista pertence muito mais a arquitetura e a geografia. Embora eu parta desse segundo ponto de vista, como dado inicial, levo em conta os resultados dos primeiros sistemas que conseguiram colocar questões muito importantes”.
Cemitério de São Cataldo por Aldo Rossi.
O Brasil por Rossi
Aldo Rossi também aborda as teorias do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre para mostrar a importância da sociedade na arquitetura da cidade.
“Refiro-me aos assentamentos e às cidade de colonização iniciadas pela Europa, principalmente depois da descoberta da América. Sobre esse tema há pouca coisa. Freyre, por exemplo, trata da influência de certas tipologias edificatórias e urbanas levadas ao Brasil pelos portugueses, e de como estas eram estruturalmente ligadas ao tipo de sociedade estabelecido no Brasil. A relação entre família rural e latifundiária da colonização portuguesa no Brasil, confrontada com a teocrática idealizada pelos jesuítas e com a espanhola e a francesa, tem uma enorme importância na formação da cidade da América do Sul. Percebi que esse tipo de estudo, pode dar uma contribuição fundamental ao próprio estudo das utopias urbanas e da constituição da cidade, mas o material que possuímos ainda é demasiado fragmentário”.