A história dos cômodos: o surgimento dos ambientes como conhecemos hoje
31 MAIO 2021
• Arquitetura
Já tentou decifrar uma época ou um momento histórico por meio da arquitetura e da decoração? Segundo João Sette Whitaker Ferreira, professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em seu prefácio para o livro “Tudo sobre a Casa”, a maneira como se separam os cômodos e se dividem as circulações em determinada época pode dizer muito sobre costumes sociais, normas de conduta moral ou do papel da mulher na sociedade. Afinal, a casa é uma extensão de nós mesmos, como afirma o filósofo Alain de Botton, sendo uma ótima referência (e testemunha) da evolução do ser humano. Para comprovar o poder do nosso morar, separamos algumas pílulas de curiosidades sobre a história dos cômodos e sua evolução ao decorrer do tempo. Confira a seguir:
Sala de estar
O primeiro corredor moderno foi criado por John Thorpe, em 1597, em uma casa no bairro londrino de Chelsea.
No século XVII, as lareiras eram a peça principal do cômodo.
As cortinas nas janelas da sala começaram a ser usadas a partir da metade do século XVIII.
A sala passou a ser mais usada pelos moradores com o advento da lâmpada de Argand, em 1783. A partir daí, atividades como ler, jogar cartas e costurar passaram a ser exercidas no cômodo.
Planta de John Torpe, primeiro arquiteto a inserir o corredor em um projeto.
Sala de jantar
Os tamboretes eram os móveis mais comuns da sala de jantar no antigo Egito.
Nas mansões da Roma Antiga, havia várias salas de jantar. Em dias de festa, por exemplo, todas eram ocupadas de acordo com o status de cada convidado.
Até o século XVII, poucas pessoas usavam talheres. A forma mais comum de comer era com as mãos.
Foi depois da Revolução Francesa, com os apartamentos franceses sendo divididos em espaços menores, que surgiu a configuração da sala de jantar como conhecemos hoje: uma mesa rodeada de cadeiras. Antes disso, elas costumavam ficar encostadas na parede.
Exemplo de uma sala de jantar na Roma Antiga.
Quarto
Na Roma Antiga, os dormitórios mais espaçosos eram divididos com tapeçarias e cortinas.
A intimidade, inexistente até o século XIX, fazia com que camas e dormitórios fossem sempre divididos. Até com estranhos, no caso das estalagens.
O desconforto dos móveis fez com que a cama se tornasse um lugar habitual para receber visitas durante o dia.
A cama era o centro da vida. Tudo era tratado nela.
Figura retrata a cama como o centro de acontecimento no Antigo Egito.
Cozinha
– Inicialmente, a cozinha era uma espécie de fogão à lenha localizado na parte externa da casa.
– O primeiro passo para aproximar a cozinha do resto da casa foi trazer o fogo para dentro. A partir de então, as salas que abrigavam o fogo começaram a ganhar armários e despensa para conservação dos alimentos.
– O fogo enchia de fuligem a casa e o fato de não ter por onde escoar a fumaça tornava o ambiente irrespirável, deixando todos os presentes manchados com a fuligem.
– Era comum que a cama onde se dormia ficasse próxima ao fogo, para esquentar os moradores da casa.
– O fogão de ferro surgiu em 1830 e foi uma das grandes revoluções da cozinha. Apesar disso, os arquitetos da época continuavam relegando o cômodo a um lugar de fumaça, gordura e cheio de calor e cheiro forte.
Exemplo de uma cozinha francesa no século XVIII.
Banheiro
– Os banheiros era mais públicos do que privados inicialmente. Na antiga Roma, era possível usufruir das termas de maneira coletiva. Os banhistas despiam-se no local e passavam por várias etapas, como uma esfoliação com azeite e areia (o sabão da época), até chegar ao banho de fato.
– Até o século XVI, a tina de banho era compartilhada da mesma maneira que um dormitório ou um caldeirão de comida.
– Para evitar o atrito com a madeira da tina, elas eram estofadas por dentro.
– No século XVIII, o banheiro era um cômodo itinerante. Mudava com os usos, do quarto à cozinha, dependendo do tipo de moradia, com os jarros e as bacias sendo transportados para os locais de sua necessidade.
– Na história dos cômodos, o banheiro surge como um ambiente separado no final do século XIX, quando chegam as tubulações nos edifícios e emplaca quando vasos, lavatórios e as banheiras de porcelana esmaltada passam a ser produzidas industrialmente.
Gravura de banheiro grego mostra que a intimidade no banheiro não existia antes do século XIX.
Sugestões de leitura:
Tudo sobre a casa – Anatxu Zabalbeascoa
Da sala, passando pelos quartos, até chegar à cozinha, o surgimento destes espaços é contado de forma fácil e didática, se tornando uma ótima leitura para quem adora descobrir curiosidades sobre a história dos cômodos da casa.
O século do conforto: quando os parisienses descobriram o casual e criaram o lar moderno – Joan DeJean
Focado mais no surgimento da decoração, este livro é fruto de uma pesquisa histórica detalhada e cheio de boas informações sobre o tema. Há desde a explicação do surgimento dos estofados (que vieram junto com o uso de roupas mais confortáveis pelas mulheres), até o fascínio do rei Luís XIV por seu castelo de Versalhes, ponto de partida de várias inovações do lar moderno.
A arquitetura da felicidade – Alain de Botton
Com abordagem filosófica sobre o ato de morar, o livro fala sobre como a casa é uma extensão de nós mesmos e reflete as nossas buscas mais profundas. O autor ressalta como pessoas mais agitadas buscam por uma decoração que as acalme, e como a casa age como um ponto de equilíbrio para o nosso ser. Esgotado, o livro pode ser encontrado em sebos ou na sua versão em inglês.
Como decifrar arquitetura – um guia visual completo dos estilos
Você fica em dúvida ao reconhecer os estilos de arquitetura que vê na sua cidade ou quando está viajando? Gótico, clássico, contemporâneo, minimalista. O livro ensina de forma didática a identificar os estilos e elementos que o formam. Em formato de guia, é ótimo para levar na bolsa em viagens.
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